06/02/2012

Natal-Bananeiras-Natal: de bicicleta por caminhos diferentes.

O PLANEJAMENTO DA VIAGEM:

Na quinta-feira (02/02/12) seguia de carro quando o telefone tocou. Do outro lado Erimar indagou se tinha alguma programação de pedal para o final de semana. Como estou em férias, não hesitei e perguntei: Vamos amanhã até Bananeiras? A resposta veio com uma pergunta: "qual a hora?". Alguns contatos telefônicos posteriores e definimos que a saída seria no final da tarde do dia seguinte (03/02/12). No decorrer do dia recebi telefonemas de Serginho e Genival demonstrando interesse em seguir conosco. Mais tarde Erimar ligou e informou que Jean-Claude também seguiria com o grupo. Combinamos então o seguinte: a saída seria por volta das 16h00min e o trajeto seria via Monte Alegre, Brejinho, Santo Antônio, Nova Cruz, Logradouro-PB, Caiçara-PB e Belém-PB. A ideia era pedalar com tranquilidade e sem preocupação com a hora. Se rolasse um cansaço e o grupo assim decidisse pararíamos em uma cidade, dormiríamos e seguiríamos no dia seguinte. Vê-se, portanto, que o planejamento praticamente não ocorreu, sendo uma viagem inusitada e por tal motivo não foi compartilhada nas redes sociais.

O PRIMEIRO DIA:

Resolvi algumas questões pendentes na parte da manhã, almocei e preparei a bicicleta, dando prioridade a chave da casa de Bananeiras-PB, pois ali seria nosso local de pouso. Tirei um cochilo de duas horas e acordei às 16h00min, ficando pronto para pegar estrada. Não demorou e chegaram Erimar e Jean-Claude. Logo em seguida foi a vez de Genival, cuja bicicleta tinha um pneu furado. Fizemos o remendo, analisamos a condição do pneu e após tudo checado fizemos pose para foto e iniciamos nossa aventura (17h05min). Ficou combinado que Serginho nos encontraria na BR 101.
Quando chegamos na BR 101 (imediações da Cidade do Vaqueiro) já estava escuro e Serginho estava aguardando. Infomou que tinha esquecido o miolo da lanterna, mas tinha ligado para Edivan da Trilha Mountain Bike e ele estava enviando um motociclista com a solução do problema. Por volta das 18h15min o rapaz chegou e trouxe o miolo da lanterna, possibilitando assim que seguissemos nosso caminho. Faço questão de registrar tais fatos, pois representam bem a solidariedade entre ciclistas.
Às 19h30min chegamos em Monte Alegre-RN e analisamos que seria conveniente jantarmos ali, pois a medida que o tempo fosse passando ficaria mais difícil encontrar um local aberto nas cidades seguintes. Optamos por uma pizzaria na rua principal da cidade. Foram duas pizzas do tamanho de Hiram (GPP - grande pra por...), com muito suco e refrigerante. Tudo gostoso e com preço justo. Enquanto comíamos um grupo de senhores sentados no canteiro central nos observava bastante curiosos. Na hora de sair um deles perguntou qual o nosso destino. Usamos então a velha estratégia (segurança) de nunca divulgar qual o nosso trajeto e começou então a resenha: Vamos até Recife, pois pretendemos passar o carnaval por lá e estamos indo na frente para alugar uma casa. Voltaremos amanhã e no carnaval vamos com as famílias de carro. Os senhores olharam uns para os outros e disseram admirados: "Vixe, os cabras gostam mesmo de andar de bicicleta". Convidamos eles para seguirem conosco, mas a resposta foi uníssona: "NÃÃ".
A próxima parada foi em Brejinho. Encontramos uma pequena lanchonete ao lado de uma funerária. Lembrei aos colegas que na minha primeira viagem de bicicleta (Natal-Pedra da Boca) paramos quase mortos de cansados defronte à funerária e somente na hora de tirar uma foto foi que percebemos os caixões na vitrine. Compramos água, fizemos um breve lanche e voltamos a pedalar.
Por volta das 23h00min chegamos em Santo Antônio do Salto da Onça-RN. Logo na entrada da cidade uma cena chamou a atenção: em uma daquelas academias públicas tinha um grupo de "garotas" fazendo exercícios e quando viram nossas bicicletas começaram a gritas eufóricas. Diante de tamanha recepção olhamos com maior acuidade e verificamos que aquelas "garotas" tinham algo a mais em suas fisiologias, ou como diz o grande filosófo Bené: "mijam em pé". Acenamos para as "ladys" e seguimos viagem.
Paramos para relaxar na escadaria da igreja Matriz e ali ficamos por alguns minutos. Aproximou-se um rapaz numa motocicleta e veio perguntar se o Professor Raimundo estava no grupo, pois no ano passado quando passamos por ali ele deu uma assistência a Raimundo, Felipe Centauro e João Paulo, ficando com eles até que o primeiro ônibus para Natal passasse. Ficamos conversando e fazendo os preparativos para recomeçar o pedal. De repente adentra a rua o grupo das "meninas" que estava na entrada da cidade. Quando passaram por nós eu perguntei se poderiam tirar uma foto conosco. A resposta foi imediata e logo já estávamos todos juntos e Serginho cunhou a seguinte frase para servir de legenda na foto: "Rapadura Biker diz não ao preconceito".
Deixamos Santo Antônio já não tão convictos se realmente é do salto da onça ou se de outro bicho mais serelepe, mas tínhamos assunto para o resto da viagem. O francês Jean-Claude não estava entendendo nada e começou a ficar preocupado com a dimensão que a foto ganharia nas redes sociais. O fato é que os rapazes foram bastante educados e em nenhum momento tiraram qualquer "cabimento" ou tiveram qualquer atitude de desrespeito.
Nova Cruz era o nosso próximo objetivo. Um frio gostoso e uma estrada praticamente sem nenhum movimento de carros foi o que encontramos até a "Capital do Agreste". Chegando na cidade (00h30min) não tinha nada aberto. De água estávamos abastecidos, mas um lanche seria bom para repor as energias. Procuramos e as únicas coisas vivas que encontramos foi um bebum com uma camisa do Flamengo e um gato em cima de uma árvore querendo comer uns passarinhos que ali repousavam. A partir dali teríamos pela frente 15 Km de estrada de piçarro, sem nada aberto e uma matilha de cachorros comedores de canelas. Nossa única esperança era que os cachorros não gostassem de carne importada, pois como Jean-Claude só anda na frente as canelas dele seriam as primeiras a receber visitas. A lua nos ajudou bastante, mas também contamos com a argúcia de Erimar Poliglota. O homem revelou mais uma faceta: além de falar vários idiomas ele também tem um apito especial que se comunica com os cães. Testemunhei o momento em que um cachorro correu atrás dele e quando já se preparava para morder emitiu o seguinte som: "AU, AU, AU, GRAAAANNNN, GRAAAANNN = VOU COMER SUA CANELA". Erimar fez uso do apito secreto e emitiu três silvos longos: "PRIIIIIIIIII, PRIIIIIIIII, PRIIIIIIIIIII = SOMOS DO RAPADURA BIKER, VOCÊ NÃO ESTÁ RECONHECENDO". O irracional então respondeu envergonhado: "CAIN, CAIN,CAIN = DESCULPE, VÃO COM DEUS, VOU PASSAR O RÁDIO PARA OS DEMAIS CACHORROS DA FRENTE E NINGUÉM IRÁ INCOMODAR OS HONROSOS MEMBROS DO RAPADURA BIKER". E saiu de cabeça baixa.
Chegamos então na Paraíba via Logradouro e assim que entramos na cidade uma pequena praça com dois banquinhos nos aguardava. O frio já estava ficando mais intenso e lembro que ao deitar no banco sentiu uma espécie de choque em razão da "friagem". Descansamos um pouco e voltamos ao pedal.
Não demorou muito e chegamos em Caiçara na expectativa de encontrar algum estabelecimento comercial aberto, pois a fome era grande. Serginho afirmou que estava sentindo dormência no estômago. Genival já tava pensando em voltar até Nova Cruz para comer o gato que estava em cima da árvore. Eu já não aguentava mais barrinha de cereal. O francês só dizia "ci, ci, ci". E Erimar estava sentindo cheiro de carne assada.
Quando chegamos no centro de Caiçara vimos umas pessoas paradas na calçada de uma casa com as luzes acesas e alguém do grupo disse: "Oba, um barzinho aberto". Quando me aproximei e indaguei da senhora sentada na calçada se ali era um bar, ela disse: "Não meu filho, ali é um velório". Perguntei se ela tinha como obter água e ela disse que sim, pegando nossas garrafinhas para abastecer. Deixamos nossas condolências e fomos embora, pois esse negócio de defunto na madrugada é muito sinistro. Ah, descobri ainda qual a razão do cheiro de carne assada que Erimar tinha sentido: "o velório era de um cabra que morreu de um balaço".
Às 03h30min chegamos em Belém-PB e em poucos minutos alcançamos Rua Nova (trevo de acesso à Bananeiras). Novamente a cidade dormia e a fome que já era grande, agigantou-se. Agora até cachorro que aparecesse na nossa frente corria risco.
Paramos no alpendre de um bar para analisar como seria o último trecho da viagem (14 Km de subida até Bananeiras). Serginho e Genival disseram que estavam bem, mas como estavam com muita fome iam aguardar uma carona. Lembrei então de ligar para Fernando Amaral pois já passava das 04h00min. O homem atendeu e disse que iria descer para buscar os meninos. Segui com Jean-Claude e Erimar. Após 06 Km começei a chamar Jesus de Genésio e cahorro de cacho e bastou ver a Kombi se aproximando para pular dentro dela, encontrando Genival já dormindo e Serginho sentado feito um Lord. Na subida passamos por Erimar e Jean-Claude, que preferiram seguir pedalando.
Chegamos em Bananeiras e fomos direto para a padaria que acabara de abrir as portas. Pedimos uma bandeija de pão que tinha acabado de sair da fornalha. Besuntamos os pães com manteiga Itacolomy, metemos queijo de coalho dentro e tomamos com suco e tudo que era líquido disponível. No final foram 138 pães (um para cada quilômetro rodado) e 15 litros de bebidas (um litro para dada mentira contada na viagem).
Subimos a ladeira do "Para Velho" na Kombi e quando chegamos em casa Dona Graça tinha deixado a mesa posta para o café da manhã. Nos acomodamos e dormimos feito crianças.
Às 09h30min acordamos e fomos relaxar na piscina. O meu professor de natação (Serginho) achou pouco ter passado a noite toda pedalando e ainda foi continuar as aulas. Fazer o quê!!!
Almoçamos com o peculiar tempero de Dona Graça e voltamos a dormir durante toda tarde. Quando começou a anoitecer descemos o "Para Velho" caminhando, fizemos as compras do café da manhã e fomos comer uma massa na simpática cantina italiana da cidade. Tudo gostoso e com  preço bom. Resolvemos subir a ladeira de táxi e assim fizemos.
Erimar preparou o cuscuz para o café da manhã, fizemos todos os preparativos para o dia seguinte e combinamos o trajeto e hora de saída. A noite estava fria e foi uma dormida espetacular.
Saída: Cláudia Celi chorando de saudades.

Festival de Pizza em Monte Alegre-RN.

Mais pizzas.

Chegando em Monte Alegre-RN.

Brejinho-RN investindo na cultura: Parabéns!!!

Rapadura Biker DIZ NÃO AO PRECONCEITO.

Chegando em Nova Cruz-RN. Alguém tinha dúvida?


Paisagem na subida da serra.

Entrada da cidade: Bananeiras-PB.

Aula de natação.

Erimar e Jean-Claude relaxando no pedalinho.

A galera relax.



Massa na cantina italiana.

Um comentário:

Anônimo disse...

Benilton como é gostoso ler suas aventuras.Mergulho na leitura e me sinto fazendo todo o trajeto. Vc é fora de série. Parabéns!!
Alzinalia.