O SÁBADO:
No último final de semana participamos (Benilton, Claudia Celi, Kuka e Neide) do Eco Pedal Talhado na cidade de Santa Luzia-PB, distante aproximadamente 290 Km de Natal-RN.
Saimos no sábado (10/03/2012) às 08h30min e fomos no rumo do Seridó, jogando conversa fora e cheios de boas expectativas para o pedal que nos aguardava. Dos quatro apenas Neide conhecia Santa Luzia, pois tinha ido a uma festa de São João naquela cidade ainda na época que Dom Pedro imperava no Brasil. Diz ela que foi na base do "bate e volta": chegou, relou o bucho a noite toda e voltou toda suada, mas feliz.
Assim que passamos de Currais Novos nos deparamos com o pessoal da Polícia Rodoviária Federal trabalhando dobrado, pois naquele final de semana estava acontecendo um encontro de motociclistas na cidade e por consequência um movimento muito grande de motocicletas na estrada. Quando passamos pelos "guardas" Kuka foi logo gritando: "Para que Bereca tá ali". Como motorista obediente conduzi o carro para o acostamento e tive a oportunidade de conhecer o Policial Rodoviário Federal mais famoso do Seridó, Bereca. O cabra é uma simpatia e tem uma presença de espírito incrível. Perde o amigo, mas não perde a piada. Tem sempre uma resposta na ponta da língua pra tudo. Enfim, tem cara de Bereca. Pegamos informações sobre a estrada, nos despedimos e seguimos nosso rumo.
Nossa próxima parada foi para almoçar no Gargalheiras e foi uma excelente opção. Além do excelente filé de tilápia tivemos a oportunidade de encontrar diversos motociclistas que seguiam até Currais Novos. Na janela de vidro do restaurante da Pousada Gargalheiras estão assentados adesivos de vários grupos de jipeiros/trilheiros/motociclistas/ciclistas que passam por lá. Não contamos conversa e colamos o adesivo do Rapadura Biker para registrar nossa passagem. Antes de deixar o Gargalheiras paramos na casa de Doutora Dayse e Pedro Brito, fizemos uma rápida inspeção no lugar e registramos tudo com um retrato.
Passamos por Jardim do Seridó, entramos em Parelhas, atravessamos Santana do Seridó e São José do Sabugi (esse trecho tem muito buraco e fiquei pensando se Micarla já foi Prefeita por aquelas bandas) e finalmente chegamos por volta das 14h00min ao nosso destino. Seguimos para o centro e paramos num barzinho de esquina (O Comilão) para pedir informação sobre a localização da Pousada Alvorada. Em uma das mesas tinham uns seis cabras bebendo e cada um deu uma explicação diferente. O dono do bar que a tudo assistia percebeu que os nossos informantes estavam "médios bêbados" e resolveu interferir, apontando qual o caminho a seguir.
Na Pousada Alvorada, localizada bem no centro da cidade, fomos recepcionados pela simpática Daniele e pela mais simpática ainda proprietária, Dona Ducarmo. Local simples, mas limpinho e organizado. O quarto que foi reservado para mim e Claudia Celi ficava no caminho do local do café da manhã, de sorte que sempre que entrava ou saia do quarto eu passava pela cozinha e tinha sempre comida disponível. Dona Ducarmo foi logo dizendo: "se tiver fome não se acanhe". Não bastasse isso ainda tinha o kit luxo: ar condicionado split e internet sem nenhum fio. Tudo primeira de luxo.
Depois de tirar a poeira do corpo fomos fazer um reconhecimento da cidade. Assim que saímos da pousada encontrei na mesma rua uma barbearia aberta. Como já tinha chegado o momento de cortar a juba, não contei conversa e já fui sentando na cadeira do barbeiro, tudo mediante o olhar de reprovação de Claudia Celi, que inutilmente insiste que eu corte o cabelo em um desses "coiffers" chiques. O nome do barbeiro é Damião, mas é conhecido por "Dão". Nunca viajou para lugar nenhum e vem trabalhar todo dia de bicicleta, principalmente para cuidar da saúde, depois que descobriu ser diabético. O serviço do homem custou R$ 6,00 e gostei tanto que acho que no próximo mês vou cortar novamente o cabelo lá.
Já me sentindo mais leve segui com meus companheiros de pedalada para um "tour" pela cidade. Como o calor tava com a molinga nossa primeira providência foi procurar uma sorveteria. Arrochamos no cascão com duas bolas, com direito a cobertura e todos demais acompanhamentos. Em seguida segui com Kuka até uma lanchonete na praça central e resolvemos fazer hora para receber os nossos kits do pedal. Ficamos olhando o movimento, tomando água e vendo o carros chegando carregados de bicicleta. Enquanto isso Claudia Celi e Neide foram às compras e voltaram somente após duas horas, cada uma com uma sacola cheia de troços. Disseram que encontraram uma promoção irresistível e compraram sapatos para usar até a Copa de 2014. Insatisfeitas, ainda foram numa loja de "importados" e Claudia Celi comprou uma coleção de arupemas, um furador de côco, um ralador de verduras e outras coisas cuja utilidade eu não sei.
Permanecemos na lanchonete até o cair da noite e descobrimos que ali é o "point" da cidade. Era gente passando e chegando de todos os lados. Bem pertinho ficava o prédio da organização do evento e as meninas foram até lá e já encontraram nossos kits reservados, inclusive já nominados. Tudo organizado e sem arrodeio. Resolvemos que o melhor era descansar, pois teríamos um longo dia pela frente. Mais tarde ainda teve um pequeno pedal de congraçamento entre os ciclistas pelas ruas da cidade, mas optamos por dormir mais cedo.
Registro aqui que conhecemos os organizadores do pedal, Petrônio e Josemar, pois até então a amizade era somente no mundo virtual. Os cabras foram bastante atenciosos e não pararam de trabalhar nenhum minuto. Simpáticos e sem frescuras, tal qual deve ser o ciclista.
Às 22h00min já estava nos braços de Morfeu, mas por volta de 00h00min chegou um grupo de ciclistas para se hospedar e teve início uma zuadeira maior do mundo. Tinha um cabra que além de gargalhar muito alto, peidava e cantava no mesmo tom. Como tenho o sono leve fiquei umas duas horas escutando as resenhas dos cabras e somente depois que faltou energia umas duas vezes foi que a paz reinou na Pousada Alvorada.
O DOMINGO:
Às 04h30min o despertador tocou. Às 05h00min já estávamos prontos para seguir até o local da concentração. Na pousada encontramos Fernando Amaral que veio com a delegação de Bananeiras.
Às 05h15min começou a juntar ciclista no local do café da manhã. Tinha gente de Souza, Cajazeiras, Patos, João Pessoa, Campina Grande, Guarabira, Jaçanã e de muitos outros lugares. De Natal além do nosso grupo também encontramos o Rapadura Fabinho Bom Todo, o experiente ciclista Ferreira, bem como Esdras, estes que vieram com a galera de Jaçanã.
O café da manhã foi servido no horário e tinha bastante fartura: frutas diversas, suco, café, pão, leite, granola, bolachas. Tudo fresquinho e em quantidade.
No local um stand do Boticário fornecendo protetor solar para os ciclistas. Mais adiante outra mesa somente com granola da São Braz, por sinal muito gostosa. Mais adiante uma mesa com maltodextrina, sem falar que tinha disponível água geladinha para abastecimento das garrafinhas. Tudo conforme prometido.
Às 06h30min foi uma sessão de alongamentos, uma oração por um dos ciclistas e teve início o pedal. A cena de quase 200 ciclistas pelas ruas da cidade foi incrível e as pessoas acordaram cedo para prestigiar.
Deixamos as vias urbanas e começamos por um estradão que aos poucos foi afinando. No horizonte nossa visão era das enormes serras de pedras. Após uns 15 Km nos deparamos com o primeiro desafio: a subida da Tubiba. O negócio é íngreme com força. Não bastasse isso o terreno é cheio de pedras soltas e deslizantes. Muito difícil de subir. Particularmente não vi ninguém subindo no pedal, mas soube que teve quem o fizesse. Até as motocicletas que nos acompanhavam no apoio tiveram que subir no empurrão.
Quando chegamos lá em cima seu Kuka tava só o pito. O homem recuperava-se de uma virose e depois de encarar a subida da serra acho que o troço resolveu voltar com força. Até ali Kuka ainda estava cagando duro, mas quando chegou no alto da serra o troço desandou. Mas não pense que ele desistiu. Pedalou ainda uns 07 Km e somente parou quando encontrou a ambulância e o carro de apoio que estavam estrategicamente estacionados. A partir de então seu Kuka seguiu no carro de apoio, reclamando mais do que vereador da oposição. Também não era pra menos, além de tá urinando pelo boga, ainda teve que seguir na carroçeria da F4000 segurando uma ruma de bicicletas. Tudo isso teria sido evitado se tivesse seguido o meu conselho e ao invés de tomar aquelas cervejinhas na praça ele tivesse tomado um chá de cortiça.
Enquanto isso o pedal continuava. A trilha parece um tobogã e o terreno é bastante diverso. De repente você vem no arisco e encontra uma areia fofa. Se não tiver ligado o chão é lugar certo. Ademais, de um lado e do outro a flora é rica em plantas perigosas: urtiga, mandacaru, xique xique, coroa do frade, jurema e outras da mesma categoria. Tive um leve contato com uma e somente agora vi um pequeno "nó" no meu ombro direito.
Em determinado momento do trajeto encontramos novamente Fabinho Bom Todo que estava acompanhado com a galera de Guarabira. O Bom Todo estava cheio de cãibras, mas mesmo assim encarou um bom pedaço da trilha no pedal. Mais adiante, após verificar que os batimentos cardíacos estavam um pouco elevados, resolveu por cautela fazer companhia a seu Kuka e outra ruma de ciclistas que estavam nos carros de apoio. Essa é a postura correta. Não deu, para e executa o plano "B" (B = bigú).
Começamos então o trecho de descidas. Um visual espetacular, mas um terreno muito acidentado e perigoso. Soube que ali houve um verdadeiro "concílio", sendo difícil eleger um Papa de tanta gente que beijou o chão. O fato é que o solo da Serra do Talhado ficou abençoado por uns cem anos, de tão beijado que foi.
Depois das descidas encontramos o último ponto de apoio: uma fazenda na localidade denominada Saco. Ali a família do senhor Milton nos acolheu com um carinho imenso. Tivemos uma ducha de água fria, refrigerante, água gelada, cerveja, jaca e buchada. Um ponto de apoio bastante condizente com o estilo do Rapadura Biker. Confesso que fiquei um pouco preocupado e vou explicar o motivo: como estava dirigindo eu declinei da cerveja, mas Claudia Celi representou bem a família nesse quesito. Acontece que Neide do Gás encarou misturar jaca com buchada, coisa que eu nunca tinha visto na minha vida. Vi com esses olhos que a terra vai comer um dia a mulher encarando a metade de uma jaca mole e uma terrina de buchada. Não bastasse isso, ao terminar sua "degostação", ainda teve a ousadia de tomar uma banho frio, correndo o risco de ter um "ramo". Mas se vocês acham que ela se deu por satisfeita estão enganados, pois logo em seguida saiu da fazenda dando adeus aos pessoal e chupando uma ruma de umbú que nos tínhamos colhido no caminho. Conclusão: a danada é magra de ruim e com certeza ali dentro deve ter um condomínio de lombrigas.
Faltavam ainda uns 10 Km para terminar o percurso e Claudia Celi saiu "desembestada", ainda sob efeito do copo de cerveja que tomou. Foi embora que nem bala pegava e eu atrás só olhando e pensando comigo mesmo: "Pra onde tu vai valente?". Agora descobri o energético eficiente pra essa mulher. Quando ela tiver dando na fraqueza no pedal, basta oferecer uma cerveja geladinha que ela vai embora. Tá vendo como a tese da "Universidade de Selamanca" é acertada.
Às 13h00min chegamos no ponto final - a AABB da cidade. Ali o almoço estava sendo servido e para quem achou que tinha comida franca no café, precisava ver o almoço. Muita fartura e mais uma vez organização. Pra completar ainda tinha um grupo fazendo um som ao vivo.
Assim que entrei na AABB um ciclista cujo nome não sei, mas também não interessa saber, foi logo dizendo: "eu cheguei às 11h00min". Olhei pra ele e disse: "e era corrida? deixe eu ver sua medalha".
Assim que entrei na AABB um ciclista cujo nome não sei, mas também não interessa saber, foi logo dizendo: "eu cheguei às 11h00min". Olhei pra ele e disse: "e era corrida? deixe eu ver sua medalha".
Almoçamos, nos despedimos e fomos nos preparar para o retorno.
Saímos de Santa Luzia-PB por volta das 14h30min e desta feita viemos por Várzea e Ouro Branco, evitando assim os buracos. Paramos em Tangará para o tradicional pastel e chegamos em Natal às 18h30min, tendo a felicidade de ouvir na estrada o primeiro gol do ABC contra o Alecrim.
No caminho paramos 45 vezes para seu Kuka obrar, de modo que o homem chegou em casa de boga assado.
Foi mais uma experiência maravilhosa e tivemos ótimas lições sobre organização de pedal para grandes grupos. Conhecemos ciclistas de vários lugares e temos uma agenda cheia de eventos até o meio do ano.
Parabéns a Petrônio, Josemar e demais organizadores. Até o próximo pedal.
Almoço no Gargalheiras. |
Vistoria da casa de Doutora Dayse e Pedro Brito. |
Aparando a juba com seu "Dão". |
O kit. |
Café da manhã. |
Alongamento na saída. |
Com Petrônio, um dos organizadores. |
Com Fernando Amaral, das Bananeiras. |
Subidinha da Tubiba. |
Posição do Rapadura Biker. |
Olha o jardim. |
Fabinho Bom Todo, Claudia Celi e seu Kuka. |
Pedalaram muito. |
Só faltam os dinossauros lá no final. |
Parada na casa de seu Milton e família. |
Neide arrochando a jaca com buchada. |
2 comentários:
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk, ri muito cm esse depoimento.
Amei a foto com o samu!! Show!!!
Postar um comentário