PALAVRAS NECESSÁRIAS:
Antes de iniciar o relato da nossa viagem sinto-me na obrigação de registrar a ousadia e coragem do colega Emano em organizar o evento. Digo isso pelo simples fato de já ter sentido na pele todas as agruras de ter organizado um passeio de bicicleta, sendo, portanto, sabedor que por mais simples que seja o "pedal", sempre está em jogo uma série de responsabilidades, que para muitos passa despercebida.
É muito bom tomar conhecimento do evento pela Internet, fazer a inscrição por e-mail, o pagamento por TED, ver as imagens do terreno no Google Earth, reservar o hotel online, enfim, tudo no mundo virtual, esquecendo, no entanto, que no mundo real existem pessoas preocupadas com o bem estar de todo e qualquer ciclista participante do evento.
No caso específico do III Pedal do Jabre alguns pontos negativos foram detectados, mas nada que tenha eliminado os aspectos positivos, os quais faço questão de destacar: os kits foram entregues conforme previamente estabelecido; o café da manhã foi de acordo com aquilo que os ciclistas estão acostumados (frutas, sanduíche, sucos e cereal); o trajeto não foi surpresa para ninguém , pois desde o início foi colocado o grau de dificuldade; os pontos de apoio atenderam às expectativas; o almoço não deixou a desejar; a organização do evento estava sempre disponível para ouvir e buscar soluções para os problemas apresentados.
Não é preciso ser experto para saber que esse tipo de atividade envolve diversos riscos e como ainda não atingimos um nível de profissionalização ideal, pequenos problemas continuarão acontecendo, mas nada que tire o brilho e o objetivo maior: confraternizar os ciclistas e incentivar o interesse pelas belezas da nossa região.
Parabéns Emano, sua esposa e todos que contribuíram para o sucesso do III Pedal do Pico do Jabre. Saiba desde já que os Rapaduras Bikers estarão na quarta edição.
PRIMEIRO DIA: 28 de abril de 2012.
Claudia Celi anunciou a desistência na 5ª feira e não questionei, pois sei que ela no momento tem outras prioridades. Ainda na noite da quinta, no pedal da Rota do Sol, uma passarinha me contou que Abeane Flávio, mais conhecido no submundo do ciclismo como "Flavinho", estava num pé e noutro para conhecer o Pico do Jabre. Cheguei em casa e catuquei os botões do teclado, deixando um recado no Facebook, que os mais chiques chamam de "Face". Não demorou muito e a resposta estava na tela: "estou dentro". Estava assim definido o grupo que representaria o RB no III Pedal do Pico do Jabre: Abeane (Flavinho), Benilton (campeão mundial de manter a respiração em locais confinados - mais adiante eu explico), Erimar (seu Berenilson) e Fábio Vale (O Barbeiro de Patos).
Saímos de Natal-RN às 14h00min e a expectativa era tão grande quanto a nossa alegria. Durante todo o trajeto um silêncio sepulcral dominava o carro, pois como se sabe homens conversam pouco.
Por sugestão de Abeane resolvemos fazer uma parada em Currais Novos-RN para experimentar a famosa maxixada, evidentemente comercializada no "Bar do Maxixe". Como o autor da ideia não lembrava o endereço do local paramos para perguntar ao primeiro morador com "cara" de que sabia das coisas. Fábio Vale fez uma verdadeira preleção e depois de cinco minutos conseguiu perguntar ao homem onde ficava o "Bar do Maxixe". O cidadão fez uma cara esquisita, parecia até que estávamos procurando o endereço do finado Bin Laden. Colocou uma mão na cabeça e resolver recorrer a outro homem que estava sentado na calçada numa cadeira de balanço de fios de plástico. O outro deu algumas informações e o nosso primeiro entrevistado voltou todo sorridente, dizendo: "você vai direto, entra no negócio da yamaha, segue em frente e vai". Ou seja, continuamos na mesma. Mais adiante tinha um ponto de mototaxistas e Fábio Vale foi logo dizendo: "Quero ver ali ninguém saber!". Paramos o carro e um mototaxista com uma pochete rosa choque veio ao nosso encontro. Quando indagamos sobre o bar o cabra foi logo dizendo: "vai ser muito difícil chegar lá uma hora dessa". Fiquei imaginando que ou tinha uma procissão no caminho ou o bar ficava no "Canyon dos Apertados". Nesse momento a minha vontade de comer maxixe já tinha ido embora. Mesmo com essa afirmação o mototaxista explicou o lugar: "esquerda, direita e esquerda". Não deu outra e em menos de dois minutos chegamos ao local sem nenhuma dificuldade. Não tinha um pé de cliente e o bar estava aberto tão somente para nós. Fomos atendidos pelo proprietário, seu Manoel, que fez questão de dizer que o tempero era seu e às vezes a mulher também fazia. Não demorou muito e chegaram as tigelas com as maxixadas. Comemos tudo e para aumentar o estrago ainda bebemos umas seis cocas KS. De panças cheias, deixamos a terra da xelita.
Passamos em Acari, Jardim do Seridó e chegamos em Ouro Branco-RN, oportunidade em que Fábio Vale fez um comentário sobre a fauna abundante da cidade, especialmente os cervídeos de duas patas. De fato observamos algumas espécies nas calçadas.
Não demorou em chegamos na Paraíba, passando por Várzea e na entrada de Santa Luzia. Dali em diante seguimos pela BR 230 e por volta das 18h40min chegamos em Patos, seguindo direto para o hotel, cuidando da hospedagem.
Depois de alojados fomos ao local de entrega dos kits e após algumas informações truncadas chegamos a Ducks Bike, uma loja muito bonita, com um atendimento muito simpático. Recebemos nossos kits, encontramos o pessoal dos Oiticica Bikers de Pau dos Ferros-RN (Lafaeite e esposa, Márcio e Danilo), a galera de Bananeiras-PB e Solânea-PB. Conversamos um pouco e saímos para jantar. A opção foi pizza e o estrago foi grande.
Quando estávamos quase terminando o jantar quem chegou foi Fernando Amaral e Picolino, vindos também da terra das bananeiras. Ficamos conversando um pouco mais e Fábio Vale pediu licença para voltar ao hotel, pois tinha acabado de receber um e-mail da maxixada, de forma que um download se fazia urgente.
Depois da saída de Fábio ainda ficamos cerca de uma hora conversando e comendo mais uns naquinhos de pizzas para não "estruir". Quando chegamos no hotel fomos diretos para os quartos e já no corredor a catinga de maxixe processado estava no ar. Quando abrimos a porta do 305 é que o fedor tava grande. Fizemos contato verbal com Fábio Vale, que ainda estava trancafiado dentro do banheiro, tendo respondido que estava fazendo a barba. Foi então que concluímos: ainda bem que ele não está cortando o cabelo, pois senão Patos iria abaixo. Fechei a porta do apartamento e acompanhei Abeane e Erimar até o quarto deles, ficando lá por uma meia hora, na esperança que o odor dissipasse. Quando voltei o maxixe ainda rendia, mas como eu estava com sono, o jeito foi encarar a catinga e lembrar da época do Exército quando tinha que encarar as câmaras de gás. Fazer o quê!!!!
SEGUNDO DIA: 29 de abril de 2012.
O despertador tocou às 04h00min e começamos os preparativos. Soube que no apartamento de Abeane e Erimar o despertador tocou às 03h00min da madrugada com uma equação matemática que pirou o cabeção de Erimar. Não sei se resolveram o problema com a resposta ou quebrando o despertador.
Às 05h00min já estávamos no local do café da manhã - Avelino Bike - juntando-nos aos demais ciclistas. Aos poucos foi chegando mais gente e o dia foi clareando. Soube depois que Erimar foi cobrado por não ter feito serviço de segurança direito, de modo que quase ia havendo um assalto em Patos-PB. Esse é outro assunto que sozinho vai render uma postagem em outro momento.
Depois de servido o café saímos com um pequeno atraso, mas tudo dentro dos limites do razoável. Os primeiros 20 Km foram num ritmo bem intenso, mas o terreno era bom e o pedal fluiu com tranquilidade. Tínhamos combinado de pedalar juntos, pois na hipótese de algum problema um ajudaria o outro. Emparelhamos com o pessoal dos Oiticica Bikers e logo no primeiro ponto de apoio sentimos a falta de Fabio Vale. Analisamos a situação e concluímos que ele tinha ficado com um colega de Patos-PB, pedalando na retaguarda do grupo. Sempre que tinha uma ponto de apoio procurávamos Fabio, mas nada do homem. Começamos a ficar preocupados, principalmente pensando no efeito maxixada.
Depois de aproximadamente 18 Km de trilha começou a subida da Serra do Teixeira, no asfalto. Quanto mais você sobe, mais subida tem. Após uns 3/4 da serra deixamos o asfalto e pegamos novamente trilha à direita, parando antes num ponto de apoio. Depois dali as subidas continuaram e começaram a aparecer as placas indicando o Pico do Jabre. Não demorou muito e avistamos de longe as torres de metal imponentes em cima do pico. De olho no altímetro eu só via o danado indicando subida e mais subida. Acho que ficamos com crédito de subida até 2015.
Em determinado momento encontramos um ciclista parado numa sombra reclamando de cãibras nas duas pernas. O homem parecia que estava com pernas de pau. Parei e ofereci a ele uma milagrosa pomada, dizendo, no entanto, que se tratava de um medicamento importado e produzido por uma cacique de uma tribo Cheyenne, direto dos Estados Unidos. O cabra besuntou a pomada nas pernas e em poucos segundos disse que já estava bom. Concluímos então o seguinte: "exatualmente doutor, essa pomadinha tem tecnologia norte-americana".
Em determinado momento encontramos um ciclista parado numa sombra reclamando de cãibras nas duas pernas. O homem parecia que estava com pernas de pau. Parei e ofereci a ele uma milagrosa pomada, dizendo, no entanto, que se tratava de um medicamento importado e produzido por uma cacique de uma tribo Cheyenne, direto dos Estados Unidos. O cabra besuntou a pomada nas pernas e em poucos segundos disse que já estava bom. Concluímos então o seguinte: "exatualmente doutor, essa pomadinha tem tecnologia norte-americana".
Por volta de 11h30min chegamos ao local do almoço - o Casarão do Pico do Jabre - um restaurante instalado num casarão antigo, no sopé do pico. Vários ciclistas já tinham chegado e muitos ainda estavam por vir. Tratamos então de almoçar e aguardar as diretrizes da organização.
Quando terminamos o almoço recebemos a notícia de que um ciclista do RN tinha se acidentado. Ficamos então apreensivos, pois Fabio Vale, conforme já disse, tinha ficado na retaguarda. Procuramos então um motociclista com a camisa da organização e indagamos se ele sabia sobre o acidente. Foram essas as palavras do cidadão: "O negócio foi muito grave. O cara caiu, quebrou a clavícula, desmaio e vomitou". Perguntamos as características do ciclista e todas batiam com as de Fabio. Perguntamos qual era a bicicleta e a resposta foi que era uma Merida, então não tivemos mais dúvidas: foi Fábio. Procuramos mais informações e soubemos que o ciclista tinha sido socorrido para o hospital de uma cidade próxima. Como não tínhamos sinal de celular, restou-nos tão somente aguardar o retorno de Emano para saber qual a real situação. Por volta de 13h00min vi a motocicleta de Emano aproximar-se e fui ao encontro dele, recebendo a notícia que o ciclista acidentado era na verdade de Campina Grande-PB, tinha sido socorrido e estava bem. Logo em seguida vinham os dois últimos ciclistas chegando e um deles era Fabio Vale, dizendo com a cara mais lisa do mundo que tinha procurado muito por nós, mas como não encontrou parou em um barzinho na serra, tomou uma cerveja bem geladinha e ainda jogou duas partidas de sinuca. Para nós foi um alívio, mesmo sabendo que outro ciclista tinha se acidentado.
Embarcamos as bicicletas em um caminhão e tomamos assento no ônibus que nos levaria de volta a Patos. Na hora de sair descobrimos que algumas pessoas ainda estavam em cima do Pico e somente com o retorno destas é que o ônibus sairia. Às 14h00min o motorista do ônibus finalmente ligou o motor e saímos para enfrentar a descida da Serra do Teixeira. Para nossa sorte o motorista era muito habilidoso e soube conduzir o veículo com maestria, mesmo diante da "zuada" desnecessária feita por alguns ciclistas.
Quando faltava uns cinco quilômetros para entrar na cidade estourou um pneu do ônibus e não era possível trocá-lo. A opção foi seguir a pé e não há mal que não venha para o bem, pois aquele infortúnio fez surgir uma nova vertente do Rapadura, o grupo de Trekking Rapadura de a Pé. Encaramos o asfalto quente e parecíamos um grupo de escoteiros mantendo erguida a bandeira de Natal-RN. No caminho alguns conseguiram carona e no nosso caso fomos socorridos por Fernando Amaral e Picolino que vieram nos resgatar. Antes de sermos socorridos pela briosa equipe do Banana Bike ainda tivemos ao nosso lado uma legião de meninos que insistiam o tempo todo em pedir qualquer objeto que conduzíssemos. Começaram pedindo a bandeira de Natal, depois um capacete, um manguito, uma garrafinha, uma camisa e quando perceberam que não levariam nada se contentaram com um copo de refrigerante que paramos para tomar em um bar muito suspeito no caminho.
De volta ao hotel, tomamos banho, arrumamos nossas tralhas, nos despedimos de Patos e encaramos novamente a estrada, chegando em casa por volta das 23h00min.
Enfim, foram aproximadamente 53 Km pedalados, sendo que a maioria de subida, em uma paisagem muito bonita e já castigada pela falta de chuva. No caminho ainda encontramos várias pessoas transportando água nos lombos dos jumentos e constatamos que somos muito "ricos" e temos muito que agradecer ao bom Deus.
Para mim foi mais uma experiência maravilhosa e incentivadora para participar dos próximos.
Deixo aqui alguns registros fotográficos para deleite daqueles que não foram.
A pé ou de bicicleta, valeu Rapaduras!!!!
3 comentários:
Pooooxa, tenho que comentar Benilton, se homens falam pouco e rendeu toda essa história imagine se fossem 4 mulheres. Vc me deu até uma idéia, kkkkk. Gostei muito da narrativa, deu pra perceber que passaram por emoções fortes, em todos os sentidos. Vc deveria escrever mais e mais. Um abraço. Juliana Cantero
Benilton, não ouse prolongar viu!
Concordo Juliana, pensa num homem detalhista rsrrs
Abraço.
Muito legal a postagem , valeu galera por ter prestigiado nosso evento.
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