Faltando dois dias para o pedal do "Roteiro dos Engenhos" o meu telefone celular simplesmente apagou. Fiquei praticamente incomunicável na quinta e na sexta e, acostumado a utilizar o despertador do aparelho, esqueci de acionar outro método para auxiliar minha alvorada no sábado.
Acordei com o barulho da chuva na minha janela. Quando olhei para o relógio o danado apontava para às 06h30min. De longe ouvi o toque do meu celular (cujo problema foi resolvido por minhas crias depois de pesquisarem na Internet a origem do bug) e quando atendi era Hiram Coala do outro lado, perguntando gentilmente: "Ministro, cadê você". Respondi não sei o quê, mas disse que estava de saída. Para aumentar a minha angústia, pois odeio causar atraso, Hiram disse que o comboio estava de saída para o local da concentração e que tinham uns doze carros. Tranquilizou-me, porém, dizendo que já tinha levado Professor Raimundo de carona. Lembrei do tempo do Exército e vesti a roupa em trinta segundos, coloquei a bicicleta no carro e fui embora. No caminho ainda passei em Lagoa Nova para buscar Suzy (Primeira Dama das Minhocas), que conseguiu em pouco tempo pedalar mais do que o marido.
Às 07h25min chegamos no Posto Estivas e depois de um breve pedido de desculpas iniciamos o pedal. Tinha muita gente e como ainda estava agoniado com o atraso não tive tempo de memorizar todos os nomes e por tal motivo não postarei.
Saímos de baixo de chuva e logo constatamos que a RN 160, parte do nosso trajeto, estava praticamente quase toda asfaltada até Ceará-Mirim. Fui pedalando e pensando numa alternativa para deixarmos o asfalto, pois isso temos toda semana na Rota do Sol e senti que o grupo queria mesmo era trilha. Um pouco antes de Massangana encontramos um assentamento e optei por entrarmos na trilha. De início tudo tranquilo, cruzamos uma ponte sobre o rio Ceará-Mirim e logo em seguida dobramos à esquerda. Entramos dentro dos canaviais e o terreno começou a amolecer, de forma que o solo escuro muito molhado pela chuva começou a virar uma "papa". A bicicleta chega deslizava. Se você parasse de pedalar metia os pés na lama liguenta. Como dizia um pedreiro que trabalhou lá em casa: "era um verdadeiro barro de loiça".
Terminado o trecho de barro encontramos o rio Ceará-Mirim e fizemos sua travessia. Alguns passaram pedalando e outros preferiram levar a bicicleta nos braços, tal qual se conduz uma noiva ao ninho de amor.
Deixamos a trilha e voltamos ao asfalto. Não demorou e chegamos na cidade. Seguimos direto para o Mercado Público que estava repleto em razão da feira. Como estávamos em vinte e nove todo mundo se espalhou entre os diversos pontos do mercado. Fiquei logo na entrada principal na companhia de Rochinha, Suzy, Abeane, Raiane, Xupeta, Esam, Giovana e outros. Pedi uma comida leve para enfrentar o restante do trajeto: "guisado de carne de boi com cuscuz" e para incentivar o arroto uma boa e velha "Coca-Cola KS". Rochinha fez o mesmo pedido e em pouco tempo chegaram os pratos à mesa. Tinha comida que dava para alimentar uma família. Começamos devagarzinho os trabalhos e em pouco tempo vi que algo não agradava Rochinha. Provoquei e ele respondeu: "pense numa mulher preguiçosa", pois sequer se deu ao trabalho de amassar o cuscuz, de forma que cada pedaço tinha mais ou menos o tamanho de um paralelepípedo. Foi, segundo ele, "o pior cuscuz que já comeu na vida".
Abastecidos, pousamos para a tradicional foto em frente ao Mercado e tomamos rumo. No caminho deixamos à direita o Museu Nilo Pereira, que pelo jeito continua fechado. Mais adiante nos deparamos com os diversos engenhos (Cruzeiro, Carnauba, Verde Nasce e Mucuripe). A chuva fina insistia em cair.
Novamente deixamos o asfalto e pegamos a trilha. Passamos nas proximidades do "Banho das Escravas", mas como estava ficando tarde optamos por não visitar o banho. Lembro que da última vez que fomos ao local encontramos alguns rapazes suspeitos fumando algo que não parecia cigarro comum e um jumento se preparando para o combate. Para evitar surpresas é melhor deixar o "banho" para outro dia, pois afinal de contas já estávamos todos molhados.
Pedalamos alguns quilômetros e logo recebemos pelo rádio a informação de que o selim da bicicleta de Eduardo Campos (Juarez II, o retorno) tinha apresentado um problema. Enquanto esperávamos a solução do problema algumas sugestões foram apresentadas, mas por razões óbvias não vou publicá-las aqui. Basta dizer que houve até quem dissesse que "esse negócio de selim é luxo".
Seguimos o trecho e mais adiante uma nova parada em razão de um pneu furado. A chuva continuava e a vegetação nessa região é muito bonita. Encontramos até uma enorme árvore caída no meio do caminho. No fim da trilha uma enorme subida e logo chegamos novamente ao asfalto.
Quem se juntou ao grupo foi João Paulo, ciclista de Ceará-Mirim, que nos viu passar na cidade e fez questão de nos acompanhar. Obrigado. É isso que gostamos de inspirar.
Passamos por Rio dos Índios, Coqueiro, Alto do Sítio e Capim. Nesse ponto o asfalto foi substituído por calçamento e pedalamos por aproximadamente 7 Km com uma horrível trepidação. Segundo um colega: "o melhor remédio para tendinite".
Não demorou e atingimos a BR 101. Fizemos uma parada na feirinha de frutas e ali tivemos a oportunidade de encontrar a laranja mais cara que já encontrei: cinquenta centavos por uma laranjinha. Não, nem que fosse a última vitamina "C" disponível na face da terra.
Às 12h50min chegamos ao Posto Estivas. Todo mundo cansado, as bicicletas cheias de lama, as roupas muito sujas, mas em todos um sorriso de satisfação com mais uma pedalada realizada.
Para quem não foi, ficam as fotos. Um abraço e até a próxima.
O trajeto. |
O "barro de loiça". |
Trilha nos trilhos. |
Um dos engenhos. |
O cuscuz encalacrado e a cara de Rochinha. |
Improvisando bicicletário. |
Feirinha na BR 101. |
Mais um engenho. |
Parte da galera. |
Na frente do Mercado. |
Na encruzilhada. |
Pedalando no Vale. |
Travessia do rio Ceará-Mirim. |
Trecho asfaltado da RN 160. |
Concentrando no Posto. |
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