PREPARATIVOS:
Desde
2010 quando fui juntamente com Cláudia Celi participar do 9º Encontro Nacional
de Cicloturismo, em Sacramento-MG, voltamos com vontade de levar mais colegas
daqui para compartilhar tão boa experiência.
Assim
que saiu a definição da data, local e programação, tratamos de divulgar nas redes sociais armadas
nos terraços das terras potiguares. Não demorou e logo tínhamos dez pessoas
confirmadas. Acredito que fomos os primeiros a garantir passagens e
providenciar as hospedagens. Contamos com a praticidade de Evandro (Bebê) e em
pouco tempo conseguimos a locação de uma Sprint
para fazer o traslado de São Paulo até Campos do Jordão, inclusive com um
reboque para conduzir as bicicletas. Como do grupo apenas Cláudia Celi e eu
tínhamos malas bikes resolvemos encomendar para os demais, resultando na
aquisição de 15 (quinze) malas. O homenzinho da capotaria adorou.
Tudo
pronto restava agora aguardar o dia da partida. Vejam o time que conseguimos
reunir: Claudia Celi e eu, Neide e seu Kuka, Serginho e Suzy, Evandro Bebê e
Celita, Júnior Verona e Vera Lúcia. De quebra, ainda tivemos as ilustres
companhias de Zé Bonifácio e Anete (cunhado e irmã de Neide) e Paulo Victor e
Mariane (filhos dos Veronas). Com uma turma dessa eu viajo até pra Usina de
Fukushima pra desentupir pia ou dar banho em cachorro brabo.
O EMBARQUE: dia 06 de
junho de 2012
Foi
um dia intenso. Deixar tudo organizado no trabalho e ainda cuidar do destino
das crias, pois levá-los tornaria a viagem mais onerosa.
Às
22h00min chegamos ao Aeroporto Augusto Severo. Ali já encontramos seu Kuka e Zé
Bonifácio. Fizemos o tal do “chiquerim”, ou “check-in”, como preferem os mais
lordes. No balcão da empresa aérea uma simpática moça nos atendeu, despachando
todas as malas com as bicicletas. Tive que pagar um pouco de excesso de bagagem,
pois coloquei dentro da mala bike uma ruma de troçada que poderia precisar por
lá (ferramentas, carregadores, rádios comunicadores, pilhas, carne seca,
rapadura, um quarto de uma galinha torrada, papel higiênico e farinha). Depois
de pagar a taxa de excesso voltei sozinho ao guichê de atendimento e travei uma
rápida conversa com a atendente, que perguntou:
“Vão sair daqui para pedalar em São Paulo?”. Respondi: “é sempre bom mudar de ares. Vamos participar de um
encontro em Campos do Jordão”. Ela disse:
“amanhã acho que vou pedalar para a Lagoa do Bonfim”. Perguntei: “ah, com quem você pedala?”. Respondeu: “com os Tartarugas”. Arrematei: “mande um abraço para Edivan”. Despedi-me e a moça
desejou boa viagem.
Voltei
para junto do grupo que já estava maior com a chegada de Serginho, Suzy, Celita
e Bebê. Comentei a minha conversa com a atendente, feliz com o fato de que ela
também pedala. Pra que fui dizer isso. Cláudia Celi sacou da peixeira que leva sempre
escondida embaixo do cabelo e disse: “essa dai ta mais pra lebre do que
tartaruga”. Ia tomar satisfações, mas foi contida. Pense numa galega braba. Não
sabe nem reconhecer uma gentileza com um viajante!
Ficamos
fazendo hora e chegou a notícia que o avião ia atrasar um pouco. Parece que
tinha chovido muito e o céu tava meio enlameado. Diante daquele quadro seu Kuka
e Bebê ficaram nervosos e para acalmar pediram umas cervejas geladas. Enquanto
tomávamos as “gelas” e ficávamos menos tensos, percebemos a ausência de Zé
Bonifácio. Não demorou ele encostou-se ao grupo e trazia consigo um saco de
papel cheio de pães de queijos. Tinha aproximadamente uns trezentos lá dentro.
Soube que ele ficou com um crédito em razão de mudança no vôo e, para não
perder o dinheiro, transformou tudo na iguaria. Cada um comeu uns quinze e
ainda guardamos pra comer no caminho, pois afinal de contas seguro morreu de
velho.
O
avião encostou e os Rapaduras tomaram assento. Como de praxe o comandante da
nave fez a sua saudação e apresentação. Até aqui eu estava tranqüilo, mas então
o comandante resolveu anunciar seu nome, dizendo: “Boa noite a todos, quem vos
fala é o comandante Pupy”. Pensei comigo mesmo: isso não vai dar certo, o nome
do piloto é o mesmo nome do cachorro de Júnior Verona. Resolvi fechar os olhos
e tentar dormir. O “trem” ganhou o céu e fez-se o silêncio. Dentro do avião um
forte “cheiro” de pão de queijo tomou conta do ambiente.
A CHEGADA: 07 de
junho de 2012
Depois
de muita turbulência e muita chuva o avião pousou em Garulhos. Pegamos nossas
tralhas e já encontramos Júnior Verona que tinha seguido dois dias antes. Fomos
direto para a Sprint que já nos aguardava
com o simpático motorista Celso. Assim que ocupamos nossos lugares Júnior
Verona tratou de abrir uma caixa de isopor cheia de cerveja, queijo e uma lingüiça
do tamanho de uma jeba de jumento. A farra reiniciou e o carro seguiu viagem.
No caminho uma rápida parada para encontrar Neide, que também tinha viajado
dias antes.
Por
volta das 07h30min adentramos em Campos do Jordão. A região é linda, o tempo
continuava chuvoso, mas mesmo assim a beleza do lugar continuava presente.
Paramos
num posto de gasolina para colocar pra fora as cervejas tomadas e já percebemos
o frio que enfrentaríamos. Seu Kuka colocou a cabeça para fora do banheiro e
solicitou um alicate, pois somente assim ia conseguir desenrolar o bigolin. Problema
resolvido e todo mundo mijado, segue o passeio.
Liguei
o GPS, coloquei no trajeto anteriormente marcado do local do evento e foi só seguir
o caminho. Enquanto estava no asfalto tava tudo maravilhoso. De repente a
estrada começou a estreitar, surgiram subidas e descidas intermináveis e o
caminho que era de aproximadamente 20 Km, parecia que tinha 100.
Ah,
enquanto isso Zé Bonifácio e Anete nos seguiam em veículo de passeio.
CHEGANDO AO ESPAÇO
ARAUCÁRIA: A Fazenda
Por
volta das 08h30min chegamos ao Espaço Auracária, debaixo de chuva e com um frio
de rachar. Quando o motorista da Sprint
tentou aproximar-se um pouco mais para desembarcamos em um local mais tranqüilo,
eis que o carro atolou. Foi então hora de tirar a ressaca. Desatrelamos o
reboque e começamos a empurrar aquele monte de ferro ladeira acima. Por sorte
apareceu William, típico mineiro morador da região, que fez uso de uma enxada e
ajudou a desatolar.
Iniciamos
a busca pelo local de hospedagem. Fomos recebidos por Marcos, gerente do lugar,
e este nos deixou ciente que dois dos
cinco apartamentos reservados ficavam em um sítio nas proximidades. A idéia não
nos agradou nenhum pouco, mas o que é um peido para quem está cagado. Estávamos
todos molhados, cansados, com fome e loucos para relaxar. Resolvemos primeiro
matar a fome e seguimos para o refeitório. Lá chegando sentimos uma saudade enorme
do café da manhã de Luiz do Mendes, Dona Biluca de Pitangui e Dona Diva de Vera
Cruz. Corremos o olho e não vimos um bife do oião. Buscamos alguma sombra de
cuscuz, mas nada. Assoei o nariz e respirei fundo para sentir o cheiro do
guisado, novamente nada. Como não tinha jeito mesmo e partindo do primado
constitucional que o melhor tempero é a fome, fechei os olhos e resolvi encarar
o que tinha na mesa, beliscando uma fatia de pão integral com um copo de chá de
camomila. Ainda bem que não optei pelo café, pois segundo Celita foi o café
mais gelado e sem gosto que ela tomou na vida. Senti-me o próprio Brad Pitt, no
filme Sete Anos no Tibet. Pensei comigo mesmo: vai melhorar, onde tem galinha
tem ovo.
Depois
do “café” seguimos para ultimar nossas inscrições, oportunidade em que
reencontrei amigos do último encontro, dentre os quais Marcelo (VIRAMESA) e
Fábio (FES).
Chegou
então a hora de seguir para nossas acomodações. Fiquei desconfiado quando
Marcos chegou e insistiu que fossemos de carro. Fiquei mais cismado ainda
quando ele disse que teríamos que dar duas viagens. Lembrei então de uma célebre
frase do ciclista-fotógrafo Luciano Cambraia: “isso é igual a limpar a bunda
com canjica”.
Dividimos
assim: na primeira viagem eu iria com Claudia Celi e depois seria a vez de seu
Kuka e Neide. Subimos na Toyota Bandeirante e a danada começou a deslizar no
barro que desce da Serra da Mantiqueira. Desce ladeira, sobe ladeira e depois
de aproximadamente 1,0 Km chegamos ao local que nos foi reservado. Um
verdadeiro paraíso bucólico, mas ao mesmo tempo distante dos demais
participantes do encontro. A essa altura do campeonato eu já estava “médio puto”,
mas lembrei dos ensinamentos do Mestre Lunga, fui lá fora, soltei umas duas
bufas na natureza e fui tomar um banho. Pra minha sorte a água era quente, pois
se fosse gelada eu voltaria pra Natal naquele momento, de bicicleta, pra deixar
de ser burro.
Enquanto
isso na Fazenda: Doutora Vera Lúcia ao ver as acomodações e colocar por duas
vezes o pé na lama, pediu arrego e disse que ia voltar pra Campos de Jordão com
Zé Bonifácio, Anete, Paulo Victor e Mariana. Tivemos então os primeiros
eliminados no Reality Show a Fazenda, ao passo que também tivemos o primeiro “obondonado”
da viagem: Júnior Verona.
Despedimos-nos
de Celso, motorista da Sprint, presenteando-o com uma camisa do Rapadura Biker
e combinando o horário de retorno no domingo.
Voltei
para o meu sítio e fui tratar de montar as bicicletas. Precisei de um alicate e
nesse momento descobri que tinha ficado no banheiro em Campos de Jordão, na
hora da mijada de seu Kuka. Olhei para o sítio ao lado e vi um carro parado. De
repente apareceu gente e pela primeira vez na vida fiquei muito feliz em saber
que tinha vizinhos. Tratava-se do casal de São Paulo, Altair e Gabi, também
participantes do encontro. Muitos simpáticos, de pronto emprestaram a
ferramenta.
Já
passava das 10h30min quando ouvi um grito. Lá no alto da serra um grupo de
ciclistas passava. Busquei o binóculo e visualizei Serginho, Suzy, Júnior
Verona (Obondonado), Celita e Bebê. Estavam saindo para uma trilha, ao passo
que nós ainda terminávamos nossos preparativos.
Às
12h00min seguimos de bicicleta até o local das palestras. Já chegamos lá
cansados e alguém teve o disparate de perguntar qual a trilha que fizemos. A
resposta foi imediata: “a trilha do meu sítio pra cá”. Cada vez que venho aqui
de bicicleta já fiz minha tarefa do dia.
Chegou
a hora do almoço. Com uma fome de leão nos dirigimos ao refeitório e logo na
entrada ouvimos uma frase que nunca deveria ter sido pronunciada: “o almoço
somente será servido quando o sino tocar”. Ah, vocês não imaginam a minha
vontade de mandar aquele cidadão pegar aquele sino e... Contive-me, lembrei
novamente dos ensinamentos do Mestre Lunga e fui até o refeitório. Claudia Celi
não se fez de rogada e apesar de ainda não ter sido aprovada totalmente na OAB
fez o seu primeiro requerimento: “Minha senhora eu posso tomar uma cerveja
agora ou somente depois que o sino tocar?”. O pleito foi deferido e logo outros
cicloturistas chegaram para partilhar algumas gelas, esperando ansiosamente o
tal do sino. Não demorou muito e finalmente o troço tocou. Diferentemente do
café da manhã o almoço estava gostoso e abundante. Enquanto almoçávamos os
colegas iam chegando das trilhas e juntando-se no refeitório. Abraços e apertos
de mãos foram trocados.
No
resto do dia houve a abertura oficial, seguindo-se com as palestras
programadas.
A
noite chegou e os Rapaduras enfrentaram o frio com vinho chileno e cachaça São
Francisco. Quando tudo parece que ia terminar ainda ensaiamos uma roda de samba
no apartamento de Júnior Verona (Obondonado) e ali o Maestro Cipó e os
Rapaduras Sem Ritmo tocaram um clássico do cancioneiro, em homenagem às
empreguetes de todo Brasil. Ao longe, quem passou pelos caminhos da Mantiqueira
com certeza ouviu: “is my Love, is my Love...”.
|
No aeroporto. |
|
Na Sprint, com Celso o motorista. |
|
Chegando em Campos do Jordão. |
|
Mais de Campos do Jordão. |
|
Com seu Kuka e Neide arrumando as bikes. |
|
Estacionando as bikes. |
|
Bandeira do RN presente. |
|
Esperando o sino tocar. |
|
Tentando chegar ao Nirvana, improvisando com Brahma. |
|
Pessoal do Clube de Cicloturismo do Brasil. |
|
Palestra. |