EXPEDIÇÃO
LITORAL NORTE DO RN – 2014
O
título original não era esse, mas por sugestão de um dos
integrantes (Diego Borges) resolvi acatar, pois a definição de
expedição obtida no dicionário do Kindle tem tudo a ver. Senão,
vejamos: “Enviamento de tropas a determinado ponto e com
determinado fim. Viagem marítima ou terrestre a determinada região
com um fim político, científico etc.”. Nos enquadramos no
etc.
O
dia escolhido foi 02 de janeiro de 2014, logo ao iniciar o ano,
pegando muita gente ainda com ressaca do réveillon. Assumo tratar-se
de uma data um tanto pouco complicada, mas como não obtive férias
no mês de janeiro, tive que fazer uma programação com término no
dia 06, pois no dia seguinte já voltei ao trabalho.
A
expectativa inicial era um grupo entre 25 e 30 pessoas, pois algo
além disso poderia complicar, principalmente no aspecto hospedagem e
no próprio desenvolvimento do grupo.
A
experiência de deixar cada um responsável por suas reservas
revelou-se mais uma vez positiva, pois isso faz com que cada um sinta
um pouco da responsabilidade de organizar um troço desse. Também
serviu de aprendizado não ter estabelecido uma regra quanto às
desistências, pois de certa forma implica na organização,
principalmente no quesito carro de apoio, travessias de barco e
transporte de retorno. Na próxima vez vamos estabelecer o seguinte:
após a efetiva confirmação a desistência implicará na perda dos
valores pagos, excetuado se o desistente apresentar um substituto que
seja aceito pelo grupo.
A
composição final foi a seguinte: Abeane, Álvaro, Areli, Benilton,
Claudia Celi. Diego Borges, Erimar, Genival, Helena, Josias, Juliana
Cantero, Luiz Henrique, Marcão, Milena, Neide, Othon, Raira e Zé
(pedalando). Alex Alcoforado, Naldo e Raimundão (no primeiro dia até
Pitangui). Alexandre Pinto e Guilherme Lima (carro de apoio). Ariê,
Soraia Lima e Leozinho (acompanhantes). Todos muito empenhados e bem
preparados, sem que tivéssemos qualquer problema digno de registro.
Esse
ano tivemos a honra de contar com colegas ciclistas de São Paulo
(Areli, Zé, Marcão e Luiz Henrique), honrado-nos com suas presenças
e sentindo na pele o calor humano do nordestino e a quentura da peste
do nosso litoral.
Cumprimos
todos os trajetos programados dentro do cronograma e não tivemos
nenhum pneu furado. Pequenos problemas mecânicos nas bicicletas de
Erimar e Josias foram prontamente resolvidos, o primeiro na base da
porrada e o segundo utilizando protetor solar para lubrificar.
Enfim,
uma palavra resume a nossa expedição: perfeita.
1º
DIA (02/01/14): Natal-Touros (97,9 Km)
Às 06h30min parte
do grupo estava reunido na rótula da Roberto Freire, início da Via
Costeira. Uma olhada para trás e o Morro do Careca sorriu para nós
como se autorizando nossa saída. Descemos pela “ciclovia” e a
brisa do mar entrou nas nossas ventas, tal qual perfume de fulô.
Olhei pelo retrovisor, ainda meio embaçado pela maresia, vi sem
nenhuma dúvida os paulistas encantados com nossas belezas naturais.
Lembrei daquela frase: “eu moro onde você tira férias”.
Chegamos no pé da
Ladeira do Sol e os demais integrantes do grupo já nos aguardava e
para nossa surpresa estavam presentes quatro autarquias do Rapadura
Biker – Alex Alcoforado (Lindão), Naldo (Ridículo), Raímundão (O
Véi) e Uilamy (Uila). Os três primeiros nos acompanharam até
Pitangui, enquanto o último foi servindo de batedor até a Ponte de
Todos. São esses pequenos grandiosos gestos que me incentivam a
continuar pedalando com essa “mundiça querida”. Fizemos a foto
no relógio e fomos embora.
Vencemos a Ponte
de Todos sem problema, atravessamos a Redinha, rapidinho chegamos em
Santa Rita e de repente já estávamos nas Dunas de Genipabu e
conforme programado encontramos os dromedários indo para o
expediente diário. Fizemos os retratos e agradecemos aos guias dos
bichos, tendo um deles dito a Raimundão com orgulho que a sua
profissão era “coletor de bosta de dromedário”.
O grupo estava
muito coeso e uma prova disso foi que pela primeira vez vi todo mundo
atravessar Barra do Rio utilizando somente uma balsa. Rapidinho
chegamos em Pitangui e a equipe de Dona Biluca já nos aguardava.
Aqui faço um registro imprescindível: nesse dia Dona Biluca estava
acometida de um mal estar, entretanto, abriu o restaurante
especialmente para nós e seus filhos nos atenderam dentro do padrão
Fifa Master Plus Ultra Combo Mega Forever.
Nos despedimos dos
colegas ficantes, abastecemos no carro de apoio já presente e
descemos para a areia da praia e a maré estava altamente propícia.
Andamos bem e em pouco tempo alcançamos Muriú, sendo recepcionados
pelo carro de apoio e acompanhantes. Chamou especial atenção o
avanço do mar, pois paramos no exato lugar quando fizemos o pedal do
litoral em 2012 e o mar já tinha levado a mureta. Lembrei então da
frase do filósofo contemporâneo oriundo de Cachoeira dos Guedes,
Lorde Bené de Lima Souza: “contra maré, soldado de puliça e
chibata, não adianta lutar contra”.
Fomo embora e
nossa próxima parada foi Barra de Maxaranguape. A travessia do rio
foi tranquila e fizemos uma parada estratégica para limpar as
bicicletas e as gargantas. A partir desse ponto seguimos pelo
asfalto, mas sempre tendo o mar ao nosso lado.
Chegamos em
Caraúbas e pela primeira vez na vida tive muita saudade de Evandro
Bebê. Quando passei em frente ao “Le petit bristot” uma lágrima
de aproximadamente 0,5 milímetros escorreu pelo meu olho direito,
atravessando o buraquinho do zíper da camisa e depositando-se na
parte superior do cadarço da minha sapatilha do pé esquerdo. Foi
foda!!!! Para os que não entenderam, explico: a residência praiana
de Evandro e Celita é parada obrigatória dos Rapaduras, sendo certo
que ali sempre tem uma cerveja gelada e um inacreditável mergulho na
piscina de corais.
O próximo trecho
foi de barro vermelho e sol escaldante. Quando passamos na portaria
do Ma-noa Park a vontade foi deixar a bicicleta e sair correndo para
o parque aquático. Elegemos como ponto de parada um “puxadinho”
utilizado pelos “guias” de turismo. Ali fizemos um lanche rápido
e por muito pouco não derrubamos a barraca.
A próxima parada
foi em Pititinga e nesse momento a temperatura estava na escala DFCP,
ou seja, “de foder o cu de peixinho”. Para completar o nosso
apoio pintistíco ainda nos mandou uma singela mensagem via radio:
“Cadê vocês??? Eu estou aqui na beira da praia tomando uma
cerveja gelada e esperando um peixe”. Contei até 5.969 e entoei o
mantra que aprendi na última viagem que fiz ao deserto de Chupaessa:
“fodeu, fodeu, fodeu....”. Energizado e sob efeito do mantra
afrodisíaco, solicitei ao Cabo de Dia (ou será Cabo de todos os
dias?), Erimar Fastioso, que anunciasse nossa saída com três
“chiringadas” de apito, sinal tradicional de saída do Rapadura
Biker.
Novamente a
estrada de barro vermelho nos aguardava e pra completar o trajeto
tinha mais costela do que carneiro magro vendido na feira de
Remígio-PB. Pra que se tenha ideia da tremedeira, suficiente dizer
que caiu uma luva da mão de Neide do Gás e ela não percebeu.
Parecendo
pacientes de Hospital de Mal de Parkinson chegamos na ponte do Rio
Punaú e nossa expectativa foi frustrada: o bar que vende Gatorade,
Cachorrorade e Mocórade estava fechado, pois depois da condenação
dos mensaleiros o dono recebeu uma ordem pra somente abrir nos dias
de domingo. A nossa sorte foi que não proibiram o banho, pois a água
estava bem geladinha. A mesma sorte não teve um grupo de banhistas
(uns três casais) que estavam ali para realizar uma “matança”,
mas ficaram envergonhados com nossas presenças.
Com a cabeça fria
e o peso na consciência de ter “atrapalhado a folga” dos
banhistas, seguimos nosso trajeto, passando por Rio do Fogo,
Carnaubinha e finalmente Touros.
Dentro do horário
programado chegamos na casa de Gracinha em Touros-RN e por mais que
esteja acostumado com a situação, a cada dia me surpreendo com a
capacidade que ela tem de ser tão atenciosa. Qualquer outra pessoa,
pois mais desprendida que seja, ao deparar-se com um grupo enorme de
ciclistas cansados (fisicamente e psicologicamente) teria como
reação natural ficar aborrecida. Com Gracinha não. O sorriso que
era grande transformou-se em enorme. Abriu as portas de sua casa como
se ali estivesse o seu irmão Júnior Verona. É isso também que me
faz insistir em pedalar com os Rapaduras.
A noite chegou e
fizemos um passeio pela cidade, com direito inclusive a visitação
ao parque de diversões. Foi massa. Voltamos a ser adultos, pois
percebemos que tínhamos que voltar cedo para dormir e pedalar no
outro dia.
Geralmente termino
o relato dizendo que a noite chegou e dormimos feito crianças. Nesse
caso, o jargão não se aplica. Explico: calhou que um grupo de AS
(almas sebosas) estava geograficamente situado ao lado da casa em que
nos hospedamos. Até aí tudo bem, pois até as AS tem o seu lugar no
céu, desde que estejam com o voucher. Ocorre, entretanto, que essas
AS eram top de linha, a fina flor do suco de jambú, catinga de
furico em pó, viagra de jumento e coisa e tal. Os caras ligaram um
paredão no volume Gangão e arrocharam a noite toda. Quando você
pensava que tinha acabado, tudo ainda estava no lugar, tal e qual
mancha de batom em cueca. O fato é que o caso terminou com a
presença da “puliça”, a quem cabe resolver problemas desse
naipe.
O dia amanheceu e o assunto não poderia ser outro. Tomamos café, nos despedimos de Gracinha (ainda de pijama) e seguimos viagem agradecidos e preocupados se aqueles idiotas do paredão não ficarão com raiva dela, pois nós estávamos apenas de passagem. Entreguei a quem confio, o velho Deus.
O dia amanheceu e o assunto não poderia ser outro. Tomamos café, nos despedimos de Gracinha (ainda de pijama) e seguimos viagem agradecidos e preocupados se aqueles idiotas do paredão não ficarão com raiva dela, pois nós estávamos apenas de passagem. Entreguei a quem confio, o velho Deus.
3 comentários:
Valeu, como eu gostei de esta ai mas não deu fica pra próxima, um abraço a todos, valeu ciclistas.
Grande Délio: um abraço.
Show de bola! pensei que num ia sair no gibi dos ciclistas...
parabéns a todos!
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