22/03/2016

Rapaduras na Patagônia - parte IV - Bariloche ao Vulcão Osorno (Chile)


Caros Rapaduras:

Dia 11 de março de 2016.

Depois da longa pedalada de ontem o dia foi merecidamente livre. Alguns optaram por fazer rafting em um passeio sugerido pelo hostel. Soube que foi bastante satisfatório e os participantes ficaram bastante impressionados com a organização. Optei por acompanhar o grupo que ficou na cidade, "batendo perna" e descansando para o dia seguinte, o tão esperado cruce nos lagos andinos.
Andamos muito na cidade e constatamos uma diferença muito grande entre os preços cobrados pelos bares/restaurantes e os supermercados. Somente para fazer um comparativo uma garrafa do vinho Postales Del Fin Del Mundo Malbec (750 ml) e uma garrafa da Cerveja Quilmes (970 ml), custaram, respectivamente, nos bares/restaurantes 130 e 80 pesos, ao passo que nos supermercados saíram por 55 e 29 pesos. Os chocolates também possuem uma disparidade de preço grande, mas nada que uma boa peregrinação nas diversas lojas não resolva.
Total pedalado no dia: 0 Km. Total de botellas de vinho e cerveja: perdi a conta.

Dia 12 de março de 2016.

Acordamos de madrugada e tudo ainda estava escuro. Havia uma certa tensão no ar, pois nesse dia iríamos pedalar com hora marcada, pois teríamos que embarcar para realizar as travessias dos lagos, tendo que obedecer aos horários dos barcos (http://www.cruceandino.com/). Saímos logo após às 06h30min pelo asfalto e o frio estava intenso. Pedalamos pela Avenida Exequiel Bustillo, passando por uma região repleta de hotéis, chalés e restaurantes. Em determinado ponto chegamos em uma região Militar e quando passávamos nas proximidades dos lagos o frio aumentava mais ainda. Após 25 Km pedalados em um ritmo muito bom o grupo chegou todo junto ao estacionamento do Porto Pañuelo. Chegamos com tempo de sobra e foi possível utilizar o wi-fi do lugar e fotografar a região. As bicicletas são embarcadas em lugar próprio e os ciclistas seguem para a zona de embarque dos passageiros. Tudo muito organizado e funcional. 
Puerto Pañuelo.

Ainda Pañuelo.

Dentro do barco fomos anunciados como "ciclistas valientes que se cruzaríam los Andes", gerando aplausos dos demais passageiros e uma emoção especial para nós. Conhecemos um casal de argentinos que também fariam o trajeto de bicicleta, sendo que o destino final deles seria diferente do nosso. Aproveitamos o ensejo e entregamos uma bandana do Rapadura Biker para acompanhá-los.
O barco é muito confortável e tem um excelente serviço de bar, rapidamente descoberto pelos Rapaduras. Em determinado ponto soou avassalador o apito do barco e o rapaz do bar nos informou que estávamos passando no túmulo do Perito Moreno e aquela era uma homenagem prestada pelos marinheiros. Rendemos nossas condolências ao Perito e aproveitamos para também homenagear o nosso querido Raimundo Bezerra, tomando um "cálice" de vinho em sua homenagem.
Bikes arrumadas no barco.

Gaivotas.
Muito lindo.


Desembarcamos em Puerto Blest, sempre com a prioridade destinada aos ciclistas, e seguimos por cerca de 3 Km até o Puerto Alegre, local em que passamos pela Aduana Argentina e iniciamos o maior desafio do dia, pedalar até Puerto Peulla, devendo chegar às 16h00min, horário de saída do barco. Aparentemente teríamos tempo de sobra, mas o terreno que teríamos pela frente não era dos mais fáceis: de início uma subida de 3,5 Km e depois uma descida de mais de 20 Km. O problema é que é tudo pedra de seixo e em alguns pontos é complicado manter o equilíbrio. Estávamos na Cordilheira dos Andes e o único barulho que se houve é da água e dos pássaros. Uma paisagem linda, mas infelizmente com pouco tempo para registros fotográficos.
Entre Argentina e o Chile.

Alegria é o nosso nome.

Olha quem achamos.

Em determinado trecho eu descia cautelosamente e de repente escutei um barulho de pedras rolando. Olhei para trás e só tive tempo de ver nossa colega Bal passando igual a um foguete, entoando uma espécie de mantra, mais ou menos assim: "ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus...". O homem lá de cima ouviu as preces e ela chegou intacta.
Uma paradinha na ponte para abastecimento de água. Na descida até o rio uma informação de Nilo chamou atenção: "senti cheiro de mijo de puma". De fato, ao lado de uma samambaia gigante tinha um local molhado. Analisei e percebi que era de um puma macho, da pata branca, donzelo, com aproximadamente 7 anos de idade e cego do olho esquerdo.  
Foi ali que o puma mijou.

Mais adiante encontrei o Mestre Kuka todo lambuzado de areia e com uma maça verde na mão. Soube de uma testemunha ocular que ele desceu a ladeira "virado num tetéu" e ao perceber a plantação de maça, deu um tríplice mortal andino, recolheu o fruto, deu um rolamento (lembrando da época em que fazia judô no Salesiano) e "caiu em pé", fazendo jus a sua fama de frequentador assíduo do "Morre em Pé" da Antônio Basílio.
Cheguei na Aduana Chilena às 16h07min e depois dos trâmites legais (inclusive tendo que comer 3 maças, 18 ameixas e 4 sanduíches) segui direto ao porto, pois o horário do barco já estava estourado. Para nossa sorte o nosso grupo era bastante versátil e dentre as participantes duas delas eram fluentes no espanhol e conseguiram com "argumentos firmes e impactantes" convencer o capitão do barco a aguardar por 15 minutos os demais ciclistas que ainda cavocavam pedras na Cordilheira.
Enfim, às 16h20min adentramos no barco, sob os olhares de reprovação dos demais passageiros, alguns com hora marcada para chegarem do outro lado e seguirem para o aeroporto. Se outrora fomos ovacionados como heróis, agora quase levamos uma surra de ovo podre.
Travessia realizada e desembarcamos em Puerto Petrohue, local bonito e com muita poeira. O plano seria seguir pedalando até o próximo destino, mas a organização mudou os planos, optando por contratar um veículo para nos deixar no próximo ponto de hospedagem, na base do Vulcão Osorno. Embarcamos no ônibus e percebemos que a subida seria muito exaustiva. Uns 12 Km ladeira acima, numa estrada estilo caracol. Já estava escuro quando chegamos ao Refúgio e lá já encontramos uma parte do grupo que tinha seguido no carro de apoio. Agora é hora de relaxar e admirar o lindo visual abaixo de nós.
Total pedalado do dia: aproximadamente 57 Km.
Petrohue
Do alto do Osorno.


Dia 13 de março de 2016.

Assim que olhei para o vulcão Osorno achei familiar e depois de pesquisar foi que percebi a sua semelhança com o Monte Fuji (https://pt.wikipedia.org/wiki/Osorno_(vulc%C3%A3o)). O lugar é muito lindo e o fato de ver as nuvens do alto é mais incrível ainda. Nos hospedamos no El Refugio Teski Club, local aconchegante e com atendimento de primeira, com ênfase para o recepcionista Cristóvão, sempre paciente, sorridente e atencioso.
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Após uma boa noite de descanso, tomamos o café da manhã e saímos para explorar a região, seguindo até uma estação de esqui e aproveitando para fazer os respectivos registros fotográficos.
Sem comentários.

Uma parte do grupo foi pedalar e outra ficou descansando. Enquanto estava trocando ideias com Mestre Kuka acerca da influência da altitude no consumo de vinho e a possibilidade de erupção do Osorno naquele dia, eis que surge o Masterchef Lanza com o seu violão. De imediato perguntamos ao garçom se tinha algum instrumento musical disponível, tendo ele ido até a cozinha e voltado com um ralador, um garfo e duas baquetas, instrumentos mais do que suficientes para fazer a percussão. A tarde então seguiu com muita cantoria e com o esvaziamento da adega do lugar.
Acompanhando Mestre Lanza na viola.


A noite tivemos o encerramento oficial do Pedal da Patagônia - Fogo de Conselho - um momento de expressão dos sentimentos, tendo cada um dos participantes a oportunidade de colocar pra fora suas impressões.

Dia 14 de março de 2016.

Acordamos cedo e fomos transportados até Puerto Varas, local em que tomamos um ônibus de linha até Bariloche. No caminho duas paradas nas aduanas do Chile e Argentina e finalmente por volta das 17h00min chegamos ao nosso destino. A noite foi para os últimos preparativos e no dia seguinte iniciamos nosso retorno ao Brasil. Após quase 24 horas de viagem chegamos em Natal às 10 horas do dia 16 de março de 2016.
Como é bom ser recebido por amigos: Valeu Cabelo, Verinha e Júnior.
Valeu. Que venha o próximo.






Um comentário:

Anônimo disse...

Oh . Meu sobrenome é Rapadura <3