"Atlântida Do Sertão" é o nome fictício ´batizado´ por Arleno Farias a sua cidade, São Rafael - RN; em seu poema original que dá nome ao seu primeiro álbum".
São Rafael é uma pequena cidade do Rio Grande do Norte, localizada
na microrregião do Vale do Açu e distante aproximadamente 220 Km da
Capita Natal. A história da cidade passou a ser recontada a partir do
início da década de 1980 quando ela foi integralmente coberta pelas
águas, em razão da implantação da Barragem Armando Ribeiro
Gonçalves. O assunto foi tema do noticiário nacional, especialmente
em razão do seu surrealismo, aliado aos efeitos sociais e econômicos
da medida.
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Localização de São Rafael no mapa do Rio Grande do Norte. |
Temos no grupo Rapadura Biker o colega Moab Felipe, nascido naquela
região e que mesmo estabelecido em Natal há muito tempo não
abandonou suas raízes, aproveitando sempre os momentos de folga para
visitar os parentes e levar suas filhas para conhecerem e desfrutarem
das coisas das terra, aproveitando assim para mergulhar no passado e
ao mesmo tempo fermentar nas crias o respeito pelas tradições.
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O tal do Moab. |
O convite para pedalar em São Rafael estava em aberto já fazia uns
três anos, faltando somente a oportunidade certa. Agora, com a
proximidade da ida de Moab e sua companheira Jac às terras
lusitanas, o projeto ganhou vida e foi designado o final de semana
dos dias 15 e 16 de outubro para a empreitada.
Saímos de carro de Natal, seguimos pela BR 304 e antes de Açu
entramos à esquerda na RN 118. Já no centro da cidade não foi difícil
encontrar a Pousada São Rafael, situada em frente à
praça. Desembarcamos as bicicletas e sentamos para repassar a
programação, ficando acertado que tomaríamos café
o mais cedo possível e imediatamente iniciaríamos a trilha passando
pela Fazenda Lájea Formosa, inscrições rupestres da Pedra Ferrada
e terminando no Casarão do Barão da Serra Branca. A região, apesar
de ficar ao lado da Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, é
extremamente seca, sem áreas de sombra e com muitos espinhos,
exigindo assim um veículo de apoio para evitar surpresas, mormente
uma insolação. Isso mesmo, o calor é demasiadamente extremo, tipo
40º com sensação térmica de 45º.
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Da esquerda pra direita: Benilton, Cláudia, Rosana, Jodrian, Alex Alcoforado, Rochinha, Júnior Verona, Jac e Moab. |
Seguimos pela RN 118 no sentido de Jucurutu e ao chegarmos na
entrada do cemitério deixamos o asfalto para iniciar o trecho de
terra. Ao longe avistamos as formações rochosas da região e não
importa para qual lado você olhe a presença do verde é quase
nenhuma. A típica vegetação da caatinga compõe o cenário e a
pedalada vai sendo feita em cima de uma areia branca, trazendo à
mente aquela música entoada por Sá e Guarabira: “O sertão vai
virar mar, dá no coração...”.
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A nossa caatinga. |
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A Lájea Formosa. |
Em alguns trechos você sai um pouco da estrada e pedala por
singletracks paralelos, porém, a atenção deve ser
redobrada, pois se você perder a trilha é pneu furado na certa.
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Singletrack aqui é o caminho dos bodes e do pouco gado. |
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Combustível puro. |
No caminho encontramos casas abandonadas e quanto mais nos
embrenhamos na caatinga, mais quente vai ficando. É impossível não
pensar nos cangaceiros e nas volantes em suas contendas dentro do
mato, tendo como principais testemunhas o carcará, as cobras e os
calangos, aliás, ainda fortemente presentes no lugar.
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É difícil permanecer. |
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Como essa existem muitas. |
Paramos na porteira de entrada da Fazenda Lájea Formosa e fizemos o
devido registro fotográfico, sempre mirando a formação rochosa ao
fundo – a Lájea Formosa – pois nosso plano era conhecê-la de
cima.
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Entrada da Fazenda Lájea Formosa. |
Saímos um pouco da trilha para pedalar em cima das rochas e, de modo
unânime, todos lembraram do Lajedo de Pai Mateus, na cidade de
Cabaceiras-PB, local comparado por alguns ciclistas ao deserto de
Utah, no Estados Unidos. A diferença é que lá tem o Deserto de Moab e aqui nós temos o Moab da Caatinga.
Pedalar em cima das enormes rochas é uma emoção diferente,
principalmente quando imaginamos quem passou por ali há milhares de
anos. A região tem estudos da década de 50 demonstrando a presença
de animais de grande porte (preguiças, tatus gigantes e tigres
dente-de-sabre), encontrando-se o material no Museu Câmara Cascudo,
em Natal-RN (
http://mcc.ufrn.br/).
Como o nosso grupo é muito eclético tivemos a sorte de contar com
a presença de Alex Alcoforado, geólogo, que deu uma verdadeira aula
sobre as formações rochosas por nós vivenciadas. Depois desse dia
nenhum dos presentes vai chamar rocha de pedra.
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A sensação é diferente. |
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Alex Alcoforado explicando sobre as rochas. |
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Parece um parque de diversões. |
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Foto conceitual. |
Voltamos à trilha, abrimos duas porteiras, passamos por
dentro de um sítio com uma criação de bodes. Uma moradora ficou
admirada com nossas bicicletas e perguntou: “vão pra onde assim?”.
Respondemos: “pedalar nas rochas”. Ela continuou admirada e
provavelmente não entendeu nada, mas não deixou de dizer um "Vão com Deus!".
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A mulher dos bodes. |
Saímos um pouco da estrada principal e entramos numa trilha à
esquerda, logo chegando a outro lajedo, cuja marca principal é uma
enorme rocha em destaque ao fundo – a Pedra Ferrada. De longe já é possível
avistar as pinturas rupestres, com vários registros de mãos
impressas na superfície rochosa. Abaixo da rocha é fácil
identificar um desenho de uma serpente e outros desenhos nos
transportam ao período remoto que alguém ali esteve e nos deixou
aquelas mensagens.
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Local de sombra. |
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Pedra Ferrada.
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De volta à trilha e agora com o calor mais intenso ainda, já
passando das 11h da manhã, encontramos uma bifurcação em T,
visualizando à direita um pequeno ajuntamento de casas
nas proximidades da imponente Serra Branca. Nosso destino,
no entanto, estava à esquerda. Pedalamos um pouco e percebemos um
local com área verde, um verdadeiro oásis naquele deserto. Ao lado,
apesar do adiantado estado de degradação, o ainda imponente
Casarão do Barão da Serra Branca, com espetacular vista para a
serra do mesmo nome. Anexada à casa grande, mas separada por razões
óbvias para aquela época, a Casa da Baronesa. Ouvimos a seguinte
explicação acerca da separação das casas: “Durante o dia a
Baronesa fazia companhia ao Barão, mas quando a noite chegava o
Barão tinha a companhia que assim desejasse”.
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Casarão do Barão da Serra Branca. |
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Casa da Baronesa. |
Fizemos uma visita pelo Casarão e observamos indícios de
arquitetura portuguesa no lugar. Lamentamos demasiadamente o abandono
e mais uma vez ficamos entristecidos com a falta de cuidado do Poder
Público com o nosso patrimônio histórico.
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Dentro do Casarão. |
Já estava no “pingo do meio dia” e optamos por não voltar
pedalando, pois afinal de contas foram 20 Km, sendo mais prudente
voltar de carro e assim fizemos, exceto Moab que tinha vindo
dirigindo e queria ser despedir do local em grande estilo. Montou na
bicicleta e encarou o sol extremamente forte.
No dia seguinte optamos por fazer um trekking até o topo da Lájea
Formosa. Fomos de carro até a fazenda e lá fomos recebidos pelo
proprietário, apresentando a casa grande e mostrando o cuidado em
manter a história preservada. Para acessar a Lájea contamos com
Diógenes, filho do proprietário, profundo conhecedor da região e
que nos levou pelo caminho menos íngreme. A subida exige um médio
esforço, mas cada centímetro caminhado compensa. Do alto temos uma
visão de 360º, enxergando o Pico do Cabugi, a cidade do Açu, a
Barragem Armando Ribeiro Gonçalves e as Torres Eólicas de Bodó. O
Vento agradável aplaca o calor intenso e ali nos sentimos um pouco
mais perto do céu.
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Preparativos no alpendre da Fazenda. |
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Hora de subir. |
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O visual compensa.
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De volta à cidade, fomos então visitar a "Atlântida do Sertão", a antiga São Rafael, tomada pela águas da Barragem Armando Ribeiro Gonçalves na década de 80 e hoje, em razão da forte seca, as ruínas da cidade estão vindo à tona, trazendo aos antigos moradores muitas lembranças e causando aos visitantes uma sensação de espanto e incredulidade. Registramos os degraus da Igreja Matriz e a situação da água do nível da água da barragem. Um cenário de tristeza.
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Aqui era a Igreja Matriz. |
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Aqui foi uma cidade. |
Para quem não conhece e deseja pedalar na caatinga, eis uma ótima
oportunidade. Necessário lembrar, entretanto, que a Lájea Formosa
encontra-se dentro de uma propriedade privada, exigindo contato prévio para obter autorização.
Maiores informações é só entrar em contato por e-mail: rapadurabiker@gmail.com